quarta-feira, 23 de março de 2011

Sudro

memórias de um homem esquecido

Fiquei pensando, gélido, com uma estátua de São Petersburgo, parecia que meu sangue havia engrossado, e todo movimento que exercia tinha suas conseqüências, dores abdominais rondavam-me, uma tromba d’água parecia mergulha-me num subterfúgio, eu estava me sentindo mais inútil que um Sudro. Estava irrequieto, a madrugada passava lenta, tão lenta como o veneno mais cruel e aparentemente tudo isso iria circular por horas intermináveis. Abri uma garrafa de uísque e fiquei embriagando-me, era o único ato que parecia ser coerente com o que eu estava pressentindo, eu tomava longas doses, enchia minha boca toda, sentia o álcool corroer o céu de dentes e engolia, literalmente, tudo de uma única vez. Era a única coisa que me fazia sentir mais quente. Era o cobertor mais quente que eu poderia conseguir.

5 comentários:

  1. Ás vezes nos embriagar é a forma mais calorosa de esqueçer tudo. Muito bom !
    estou seguindo e gostaria que voce seguisse meu blog tambem.
    um grande abraço Gulherme !

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  2. é vero o alcool em nosso corpo se manifesta de várias formas, mais doses, sim nos queremos mais doses a nos embriagar por entre veias de esquecimento, e se somos inúteis?, e dai? bebamos mais para sermos mais ainda, como dizia pessoa: eu não quero ser nada... e por ai nós vamos tentando ser sem ser, só mesmo sendo...abs, cervejinha gelada hj! demorou!

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  3. Embriagar-se, este é um ato de total humanidade, e é esta toda a humanidade destes textos. O que embriaga os sentidos, espreme, de qualquer peito aberto para descobertas, o óbvio sentimento de nada ser.

    Ergue-se o copo antes do corpo!

    Maravilha! Boa semana e bons copos!

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  4. Muito bom Canedo meu chapa!
    Como Pessoa foi citado ai em cima, (e como já conversamos sobre minha predileção pelo presente concebido por Dionísio, o vinho), lembrei de uma que cai como uma luva...

    “Por sobre o verde turvo do amplo rio
    Os circunflexos brancos das gaivotas.
    Por sobre a alma o adejar inútil do que não foi, nem pôde, e é tudo.
    “Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.” (Fernando Pessoa)

    Abraços amigo!

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