sábado, 27 de novembro de 2010

Embriagando-se com Neruda

Deitado na minha cama as idéias parecem mais descompassadas do que quando estou perto do meu desassossego. É como se a inquietude me possuísse tornando-me um tanto recluso dentro da minha própria cela. Nessas horas acendo cigarros atrás de cigarros, desenterro um licor de tangerina, que mesmo fiz, no fundo do meu armário e começo a contemplar a minha fuga. No jornal, a notícia de que o mundo lá fora se diverte com a encruzilhada de balas desmancha qualquer possibilidade minha de vê-la. Sim, sairia pra qualquer lugar, com tiro ou sem tiro, só pra poder encostar-me em sua camada de açúcar. Vou colocar fogo num ônibus por não poder encontrá-la. Quer maior prova de fidelidade? Não tente entender o que certas pessoas têm na cabeça.
A lua está estatelada num céu de mercúrio e se aprumar um pouco meus braços para a direita, talvez, consiga encostar os meus dedos. É com essa imagem de proximidade que penso nela e na vontade de dizer tudo o que vem a minha cabeça. Hoje, tenho com o que sonhar e vender pra quem quiser comprar o meu melhor produto. Acho que é assim que se começa bem disposta à morte de poetas marginais. Talvez precise de Neruda perto de mim pra consolar-me.

7 comentários:

  1. "Não tente entender o que certas pessoas têm na cabeça"

    Como Neruda consolaria? Solidão acompanhada... é.

    Um abraço!

    Sempre transpondo os próprios escarros, dos próprios cigarros, que somos nós. Sempre assim.

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  2. A nossa cidade está nos levando ao entremo da loucura e do dom.
    Paz pra nós.
    bjs

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  3. Bem, acordei e desejei que tudo fosse pro inferno, não imaginava que, se não fôssemos ao inferno, o inferno é que viria...
    balas...
    essas suas reflexões encantam o que resta da minha alma.

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  4. Ah! o homem só é homem por ter o direito de embriagar-se!
    esse seu texto mescla realidade política e sentimental, isso se as duas não forem a mesma coisa!

    bjus!

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  5. bom retornar. reencontrar estes retratos, rabiscos, memórias de passado e futuro. essa lua e essa janela, com licor e com afeto. versos e ventos nesses dias escuros.

    bom embriagar-me aqui com tuas palavras que descem rasgando. e bacana saber das andanças/conversas/cervejas até você voltar ao meu blog. feliz fico por todo esse compartilhar. sigamos, entre palavras e álcool, entre o mel e a fumaça, os derradeiros começos.

    beijos, beijos pra ti.

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  6. Sim Neruda consola todos os tipos de imperfeições humanas.
    Uma vez Jim Morrinson disse que única obscenidade que ele conhecia era a violência, e ele tinha razão.

    abs, cerveja gelada fds !

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