segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Pecando na vontade

Não foi dessa vez, provavelmente numa outra ocasião, num tempo de verossímil desamparo e tristeza, no qual necessitava desesperadamente de um abrigo. Eu quase me obriguei a isso, tentei forçar as coisas por detrás de uma cortina que parecia ser segura o bastante para se esconder, se encolher. Necessariamente, não acho que pensar seja sinônimo de compreensão, de sabedoria, isso tudo a meu ver não passa de medo escancarado. O meu problema no geral foi à necessidade de não ter, de estar numa eterna procura sabe-se lá de que. O que pode se considerar uma gigante babaquice. Por cerca de seis meses evitei intimamente os meus amigos, evitei sair com eles e me misturar a um tanto de pessoas que não me traziam nada, só mais tristeza e dor. Confesso que um amigo em especial, às vezes, conseguia me envolver nas suas conversas e me convencia a fazer alguma coisa a seu gosto; e com ele sempre me sentia bem, talvez por me sentir especial ao seu lado. Fiquei com inúmeras mulheres, algumas bem interessantes e outras nem tão interessantes assim. Eu creio que nessa época de desespero sem fim, estava acreditando demais no amor e nas poesias. Pra cada mulher que me envolvi eu escrevia um texto, um conto, mas nunca poesias; talvez por não oferecer o que tanto procuravam ou simplesmente por não ser capaz de fazer uma boa poesia mesmo. Fernando Pessoa sempre foi capaz de me fazer sentir um merda. Nessa época tornei-me amigo de uma grande pessoa e todos os dias nos encontrávamos num bar para conversar sobre livros, filmes, mulheres, imbecilidades e porque não para tomar umas cachacinhas. Eu adorava ler suas poesias, não eram aquelas poesias rebuscadas, eram intensas e sortidas dentro do seu desespero. Agora imagine quando chegávamos à noite já bêbados e discutíamos sobre nossas divergências poéticas? Palavrões cantavam e tapas quase saiam... Mas sempre nos encontrávamos e assim ficávamos presos dentro dessas brigas todo santo dia. Eu acho que por causa dele saí um pouco do sofrimento que estava sentindo, os problemas já não eram tão confusos assim; o tempo foi capaz de cavar a sua própria cova. Sentia-me feliz novamente, arrisquei até algumas poesias ao seu conselho, e ele dizia adorar. Mentiroso. Certo dia ele não apareceu para nosso encontro diário, no seguinte, no seguinte e no seguinte também. Soube por outros que ele quase morreu e que estava internado em uma clínica para alcoólatras. Logo que saiu ele me ligou e marcamos de fazer algo, fomos para o mesmo bar e passamos a tomar coca-cola, não era tão legal como antes, mas mesmo assim me senti feliz, não por mim, mas por estar retribuindo indiretamente a ajuda que ele tanto me deu.

4 comentários:

  1. OLA
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  2. também estou a procura sei lá de que, isto não é depressivo e nem angustiante mesmo que pareça ser. Procurar o que não se sabe é sentir-se vivo

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  3. Os amigos-mestres são os melhores (desde que sejam modestos). Achei seu texto muito sincero, confessional. Gostei bastante!

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  4. O meu problema no geral foi à necessidade de não ter, de estar numa eterna procura sabe-se lá de que
    esse é meu problema de sempre meu caro

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