segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Lamento

Memórias de um homem esquecido

- “E se todos os olhos se fechassem na brisa gelada e apenas eu pudesse enxergar”? – “O que enxergaria primeiro”? Na verdade queria saber o tão cego sou agora e quanto não sou capaz de enxergar certas coisas. Um dia me defini como um sujeito atroz, e isso é a mesma coisa do que pisar sobre o fogo esperando que ele se fundisse a mim sem me queimar. Certas características não são propriamente verdades e tão pouco mentiras; é como viver no ar dependurado sobre as nuvens esperando ser empurrado. Há algum tempo atrás fervia idealizações e tantas coisas assim me fazia feliz ou apenas ausente da tristeza. Por muito deixei de sonhar e por tão pouco deixei os detalhes escaparem por entre meus dedos. Hoje vivo a plenitude de qualquer realidade, a que eu quiser pra mim ou a que quiser inventar. E isso é excelente, isso me traz maturidade, me traz experiência e um tanto de aventuras, um tanto de loucura, de insanidade e de atrocidade. Minha pergunta é: - “Quando tudo isso não tiver mais valor o que eu pretendo olhar”? Não tenho aqueles tipos de preocupações casuais de encontrar o amor da minha vida e de ser feliz para sempre. Sou o tipo de pessoa que se apaixona todos os dias e que prefere morrer a viver restritamente uma ânsia coletiva. Se uma pessoa ainda falasse comigo diria que geminiano é um pé no saco. Está aí uma coisa que sinto saudade de ouvir. Às vezes tenho vontade de sair e encher a cara de conhaque, uísque e cerveja, como se já não fizesse isso, e me casar com uma prostituta qualquer. Iria apresentá-la a todos os meus amigos e ainda a levaria na festa de final de ano na casa do meu chefe. Quando me perguntassem como nos conhecemos diria: - “Não me lembro”, - e caso uma dessas pessoas a conhecessem da noite e viesse me dar um “toque”. – “Cara, como você se casa com uma puta dessas”? Eu responderia que havia me casado exatamente por isso. Nunca tive essa distinção ou esse pensamento de saber separar detalhes, de priorizar parênteses de aspas. Eu não morreria por amor, mas seria capaz de matar pra cultivar meu jardim de serenidade.

Carlos Posada - Lamento

               

4 comentários:

  1. "Sou o tipo de pessoa que se apaixona todos os dias e que prefere morrer a viver restritamente uma ânsia coletiva." Otimo, me sinto compreendida hehe!

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  2. Bem "informal" como deveria de ser. Sinto um sentimento de rebeldia social, talvez outra coisa sem nome, sem rótulo. Um ótimo texto.

    Sim, realmente separar o escritor ou sua vida pessoal de seus escritos não é tentador nem simples. Disseram-me um dia que ler poesia é difícil, pois é necessário seber e pensar como poeta, sentir o mesmo que ele sentiu quando fez o poema... estranho, não seria isso um dos ideais poéticos ou o que for? o ato de fazer perceber seus sentimentos com relação à alguma coisa ou pessoa em questão? e isso não se restringe só a poetas, mas a todo e qualquer artista ou pseudo...

    Tem tempo que não entro em um trem. Lembro que a ultima vez estava indo para a central, rabiscando desenhos em um caderno meu, um cara chegou e disse: - ei, você é bom nisso aí! depois me pediu um cigarro, mas acho que não era você.

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  3. Gosto de sua maneira de escrever.
    Me encontro e quero me desencontrar novamente n'algumas palavras que voce usa para verbalizar, sabe?
    Seguir-te-ei.
    Franco e intenso, como bons geminianos que somos.
    =)

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  4. Este libriano que vos fala queria um pouco dessa intensidade, que desperta sorrisos de felicidade de canto de boca, pois tenho ficado somente no meio das coisas. Preciso casar tambem com uma puta, mesmo que seja só pra sentir como é ser intenso.
    A sua classe para escrever heresias esta muito boa

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