terça-feira, 8 de junho de 2010

Perpétua

Tem pólvora nas cortinas e sêmen escorrendo pelas paredes. O corpo entrega-se, perpetua-se na correnteza de lábios, é o instinto, o canibalismo excêntrico, a profundeza de um poço com lodo em suas bordas... Eu gosto de escorregar, de patinar sobre o gelo fino, de rolar sobre aquelas folhas caídas que um dia você irá me mostrar. O sabor da língua desconhecida ao som das cervejas e o cruzar dos braços sobre o pescoço é bom, porém falso. E isso nos magoa não é? São corpos que tento te encontrar, são bocas que tento encontrar o seu encaixe perfeito; são nossos fracassos constantes, e isso é demais pra nós dois, serve apenas para nos afirmar cada vez mais e mais. E pra que? Quero a sua particularidade, como creio que você também queira a minha... Sua imagem moldada com esquadros em minha cabeça é o que anda me satisfazendo, acariciando o que um dia foi tão arredio e machista. A sensação do dia do toque, do estalar dos seus lábios se faz intenso em mim, o assobio das suas palavras reais, o seu canto sulista, suas reverberações e seu espirro freqüente. Quero isso pra mim! O vazio não nos cabe, não fala a nossa língua, queremos mesmo é ir à procura do encontro, atravessar estados, entender sotaques e poesias pingadas no nosso próprio chão... E nesse chão é onde eu quero me despir, ficar variavelmente nu de certos conceitos e práticas. Entrega. Talvez a palavra seja essa, seja límpida como a cachoeira que percorre por entre as quimeras das suas imperfeições, é onde quero fazer minhas acrobacias, dar meu melhor mergulho e ir tão fundo em ti que meu afogamento contextualiza-nos. E isso não é acidental, é previsto, é revisando, não é homicídio, e sim o suicídio construído com pedras talhadas, com cristais romboédricos; no âmago, no cerne das conjunturas da sua visão enviesada por uma janela qualquer... E isso perpetua em nós... O encontro.

4 comentários:

  1. É lindo, Gui.

    Em especial isso: "São corpos que tento te encontrar, são bocas que tento encontrar o seu encaixe perfeito; são nossos fracassos constantes, e isso é demais pra nós dois, serve apenas para nos afirmar cada vez mais e mais."

    Ah, sempre bom vir aqui! :)

    Beijo, poeta!

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  2. Falado em intensidade, posso retribuir o elogio.

    Um beijo :)

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  3. grato pela visita, guilherme.
    quando quiser!
    abraço.

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  4. O sabor da língua desconhecida ao fracasso de buscas de um encontro é o que mantém a entrega,


    beijos

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