sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sangrando

Eu antes sentia dor por não saber qual o seu significado. Sentia dor por não ter mais a fé cega de uma criança. Sentia dor por não acreditar e eu amo acreditar. Sentia dor por não saber dar um abraço apertado. Sentia dor por não saber projetar os versos que eu plantei. Sentia dor por descobrir que o céu havia morrido e que estava sangrando. Sentia dor por achar que a terra camufla centenas de verdades. Sentia dor por descobrir que havia perdido minha dor e ainda não me acostumei com a sua ausência. Sinto dor por saber que de todas as minhas dores tenho uma preferida...

Saudade ferve em nós quando ensaiamos algo em movimento.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aroma de café e pele lilás

Por favor, não morra...! Traga consigo a lenha, e o veneno para alimentarmos as cobras. Dê valor a areia, deixe-a cair, deixe-a fazer o nosso alimento, pois da sua queda tiramos o aprendizado do infinito e a permanência da nossa reinvenção constante. Eu sinto você e sua presença ática deslizando pela minha pele; e às vezes sinto a sua pétala escorar, sangrar sua essência desconhecida sobre o oxigênio mesquinho que eu respiro. Quero me embriagar pelas margens do seu rio santo, beber o vinho que seu corpo produz, e dançar além das árvores estateladas a nossa versão mística do encontro, da chuva e dos gozos. Por favor, não me deixe morrer, a nossa construção independe da distância, independe da razão de olhos distorcidos e incrédulos: “Vamos dançar”? Pois acho que encontrei minha companheira de dança.

terça-feira, 18 de maio de 2010

In somma

Vendo as suas fotos notei a sutileza da essência congelada, a receptividade da ternura do seu abraço inventado, e a doçura da sua fragrância inusitada descendo pelas minhas guelras. Seu sorriso é assim, me faz querer parar e ser tão imóvel quanto à fotografia: “Talvez pra vivermos o mesmo plano, a mesma realidade ou somente a espera daquilo que se faz voraz dentro de nós suturar”. Eu quero ser o cachecol que enrola o seu pescoço, o cheiro do xampu que circula pelos seus cabelos, quero ser a outra metade da fotografia que está faltando.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Lua

Eu plantei meia-dúzia de palavras em meu peito, vesti suas frases experimentadas no ardor e me senti acolhido ao ponto de não querer tirá-las mais. Eu lacei-a entre o céu estrelado e não há nada no mundo capaz de roubá-la de mim. Ah sim, minha Lua de pele clara, de um suntuoso sorriso e de olhos castanhos tão fundos que mal consigo encostar os meus pensamentos. Perto dela não vejo, não ouço, apenas exalo sua essência, seu início, meio e fim. Isso não deveria de forma alguma se chamar amor de tão irreconhecível, de tão desconhecido... Poderia se chamar universo, pois jamais o conhecerei por inteiro, poderia se chamar abismo, pois me atiro ao seu encontro.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O dia em que faremos contato

Venha pra mim como uma bala, e acerte-me no peito enquanto eu estiver atravessando a Presidente Vargas... Finja que vai me matar, encene seu balé dentro de mim, e faça meu coração sangrar com seu salto alto. Posso sentir você oxidando meu corpo, abrindo meus poros tão fechados e fazendo parte do contexto, do roteiro que o livro descambou pra nós. Sinto o metal escaldando, e os vestígios de pólvora estourando meus fragmentos de músculos... E isso é calor... São as ondas me cobrindo da noite escura. Os baleados têm pressa, mesmo morrendo o pensamento permanece em sentido extático. Agora estou anestesiado; um torpor, uma vertigem que permanece tão fundo em mim que considero-me sua cápsula protetora... Venha pra mim como uma bala, e acerte-me no peito enquanto eu estiver atravessando a Presidente Vargas... Finja que vai me matar, finja apenas, por favor, estou confiando em você.

sábado, 8 de maio de 2010

Paz na solidão

A madrugada vive no tenor dos seus olhos, na vontade e no desejo da descoberta, do insaciável parágrafo do seu rosto. Nada posso pensar nessa semana sem ser ela, pois meu desejo é senti-la no calor do seu abraço de três braços. Eu quero nadar onde seu corpo habita, quero remar onde o desconhecido revela-se usando sua máscara de carnaval. Sua beleza é composta e, sabe bem ela que seu reflexo no espelho tem vida, e isso, de fato, é um pedaço que admira... Queria trocar o sol que me traz luz, pela neblina e o frio que se faz o seu ambiente, trocaria sem ao menos pensar, sem ao menos lembrar-me do que foi feito do meu passado. Sobre ela nada mais posso escrever, seria um abuso da minha parte, pois não conheço adjetivos para isso.

domingo, 2 de maio de 2010

Canto do Equador

Pra mim obscenidade é a guerra!

Corri meus olhos sobre aquela pequena mulher e pensei inúmeras formas de lhe dizer o que sentia. Queria fazer da sua pele meu cobertor de células de cetim, enxergar-lhe por dentro das suas calças de couro e sentir o tinir dos seus lábios estalando... Sim, como queria. Uma menina que aos poucos coloca esses pensamentos dentro da minha cabeça, não pode passar-se despercebida, ainda mais por olhos tão certos e maduros como os meus. Não posso imaginar ninguém mais do que ela para estar comigo, para dormir comigo: “pelo menos naquele instante momento”. Ela tem uma beleza distinta das muitas variedades que costumo encontrar, e não só por ter uma complexidade que se diz incompreendida, mas também pela forma aprazível do seu rosto e das suas coxas. Sinto no fundo da minha maldade, no poço sem fim da minha canalhice que ela quer algo comigo também, sem colocar pontos ou vírgulas. Eu vi dentro dos seus olhos lúbricos, o interesse e a vontade dela em me descobrir. Ficava admirando-me enquanto eu falava sobre Henry Miller; e notoriamente a necessidade que ela tinha em fazer-se um conto meu. Poderia facilmente escrever dez páginas apenas descrevendo-a, apenas beijando o seu pescoço. Sua bebida favorita era vodka, não que ela tenha me dito, mas por sempre voltar do bar com uma dose pendurada em seus braços. Bebia como um passarinho, bicando com elegância, embriagando-se de forma homeopática. Não devia ter muito mais do que dezoito anos, isso era certo, pois estava no início da sua faculdade de literatura. Entre uma bicada e outra em sua vodka, recitava pra mim trechos de “Romeo e Julieta” como não poderia ser diferente. Achei tudo formidável, pois sua voz nasceu para Shakespeare e para cantar-me aos ouvidos. Seus pés surpreendentemente começaram a roçar nas minhas pernas e ainda tão mais eram seus olhos compenetrados em mim, tudo parecia não ter mais importância para nós; o que era para ser acabou sendo ligado diretamente na fonte, e nossos carbonos estavam agora eclodidos, sem existir sequer palavra para descrever nosso composto orgânico desmantelado... Estávamos, de fato, em uma combustão. Segurei-lhe as mãos, mordi-lhe a orelha e sussurrei: “Vou ao banheiro, siga-me”. Sem deixá-la responder, levantei-me e segui meu caminho ao banheiro do bar. Alguns segundos depois; ouço quatro batidas fortes na porta. Destranquei o trinco e a abri para ver se era realmente quem eu estava pensando que fosse. Sim, era ela, e estava toda possuída de seus atributos femininos, com seus cabelos caindo sobre o rosto; deixando-a ainda mais irresistível e suntuosa em sua beleza incandescente. Ela empurrou-me de volta ao banheiro com uma das suas mãos em meu peito, seu olhar parecia sedento, e sôfrego de um desejo que iniciou-se entre as suas pernas. Sutilmente, ela fechou a porta com as costas e ficou parada fitando-me; seu corpo parecia gritar meu nome, como se fosse um engodo, como se quisesse descambar a lua até nós. Fui até seu encontro, segurei uma das suas pernas e enrolei-a em minha cintura, acariciei seu rosto mansamente enquanto fechava diante de mim os seus olhos: “Estava condenada, ao seu gosto, à sua entrega”. Nossos lábios como conseqüência foram suturados na presença de um beijo, foram encaixados no feitiço incompreensível que nos cercava. Minhas mãos percorriam a sua cintura, caminhavam pelas suas coxas sóbrias, e derretiam-se pela sua vulva de fina pele de flor. Levantei a blusa e toquei-lhe os seios, seus gemidos explodiam nos meus ouvidos, misturados a um ranger de dentes; e sua voz pedia-me mansamente para sugá-la, logo, de uma vez. Beijei seus mamilos róseos, passei minha língua entre as formosas curvas dos seus seios e segurei-a bem forte pelo cabelo enquanto ela se ajoelhava à minha frente. Desabotoou minha calça e tomou o meu pau em suas mãos puras, e com uma destreza, uma perícia que jamais eu havia sentido, colocou-o em torno de sua boca, em seus lábios, apenas para provocar-me, para depois, finalmente chupar-me até o talo. Ergui-a em cima da pia, retirei sua calça e toquei suas pernas nuas, alisei-a em meio a alguns apertões enquanto ela transava-se em torno de mim; apertava-me como se não quisesse mais deixar-me fugir. Ela esprimia meu rosto sobre os seus seios e sem fazer sequer força, com a naturalidade dos amantes, penetrei-a tão vividamente que senti a quentura do seu interior mais profundo; aveludado e acolhedor é seu intimo, afetuoso e justo, como certamente havia imaginado. Meu corpo oscilava no encontro do seu. Nossos corpos ficaram unidos em meio a movimentos peristálticos tão elaborados e ensaiados. O meu amor próprio prevalecia-se daquele contato com a sua pele; e seus risos de prazer cantavam as notas presas dentro do seu útero. Nossos olhos fecharam-se, estávamos tão cegos como uma lâmpada queimada. Dentro de nós eclodiu o desejo de saciar-se, de gozar, de terminarmos o que havíamos prontamente começado, e que velozmente, no acelerar de nossos movimentos, se resumiria a vozes tão dissonantes e lânguidas; com o espasmo do seu corpo e a certeza da realização de um conto seu.