Dentro do ar apago as vozes como quem não quer encarar as notas. Dentro do gelo apago o frio como se isso não fosse muito importante. Mas a verdade é que caio e, se pudesse apagaria o tombo também. Não me recordo o que foi feito de mim, mas se pudesse o apagaria como quem apaga o próprio texto. Eu respiro porra, eu respiro... E me perco dentro dos emaranhados dos meus próprios laços, dentro dos labirintos da minha casa de sapê. Talvez seja recesso de espírito, falta de combatividade; mas pode também ser tempo, sim, tempo de espera, tempo de reabastecer.
Afogou-se a vontade, afogou-se o critério e eu contínuo aqui, queimando como uma tocha e meia de outros desejos. Sou o âmbar de luz e faísca que conserva dentro de si um tanto de outras estrofes, de tantos outros “causos”. E aquele sonho? Aquele mesmo que jurei que havia me matado? O vento? Sim, carregou-o para respirar outros ares, outros corpos. Nossos sonhos são impermeáveis, são líquidos imiscíveis de conflitos e de redenções esporádicas. Sopro forte, arrancou de mim, arrancou das minhas glândulas secas... Pra que forçar tanto a memória? Apagar, sim, por que não consigo apagar isso também...?
Mentiras e verdades recheadas de deletérios descem pelas minhas guelras, acotovelando-se, atirando-me de volta daquele precipício. Por que minhas verdades tem o mesmo peso das minhas mentiras? É dessa forma que congelo-me, apagando-me assim sucessivamente, paulatinamente... Não sei se existiu um ponto forte, mas o lado fraco certamente rompeu-se e eis que a espinha dorsal de tudo isso só poderia ser... Só poderia mesmo. Pensar em mim congestiona todo o resto e, o mundo atrasa enquanto mantenho-me firme dentro da primavera de um espelho partido. Eu me anulo cortando meus pulsos, eu esmiúço-me caracterizando um outro fato, uma outra sucessão.
Dos males “concerto-me” ajeitando a cabeça enquanto a reclusão de sentido vaga sobre a catarata que há em mim. Não há um corretivo, apenas uma verdade escamada, uma verdade preferida servindo como interlúdio, como fuligem a se desfazer com um sopro qualquer. Com os outros lados, vejo-me em quadrado: por que meus lados são tão iguais, tão perfeitinhos, tão simétricos...? Ah, sim, condenação quadrática de paredes umedecidas, de paredes surradas por tantos golpes repetitivos, tantos infortúnios, tantas quimeras... Tantas outras canções.
Meu abraço sussurra, enquanto meu beijo queima como flâmula. Eu suavizo porra, eu suavizo... Não da maneira correta, mas de forma autêntica, inviolável e questionável. O limite em mim foi demarcado com uma linha. Meu peito foi cortado, dividindo meus pontos ardorosos, mapeando-me assim como a geografia do desfalque das roupas, com a silhueta do imperfeito, do defectível; marcando-me com uma linha imaginária como na teoria da Linha do Equador. Por onde começar não imagino, mas eu sou o infinito e não tenho fim, minto, não vejo um final propriamente quando baseio em mim ou no que eu posso fazer. Dentro do limite sou ilimitado de erros, ilimitado de abandonos e de sucessivas coisas que partem de dentro para fora, de fora para dentro. Não sei como pode ou como explicar que não sou tão bondoso como julgam-me ser, porém existem coisas como calor latente e dentro dele pareço revelar-me, não para os outros, mas para mim mesmo.
gui, vem logo pro rio!!!!!!!!!!
ResponderExcluirsaudades de vc!
O dom de escrever não é dado a todos... apenas para aqueles humildes e sensíveis de coração.
ResponderExcluirMe disseram que hoje é dia da inspiração... não sei bem ao certo, mesmo assim, passo-te um desejo: continue essa pessoa linda de sentidos e continue cultivando este belo blog!
Abraços!
Poetíssima#
Muito bom! Você escreve muitíssimo bem! Abraço
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