domingo, 24 de julho de 2011

Conto – Canções Dentro da Noite Escura

O engraçado foi que ela passou por mim e nem sequer um rabo de olho fez. Isso era diferente do que o Francisco havia dito. Eu gostaria que ela me olhasse com aqueles olhos tão pedintes depois de ontem... Acho que fiquei de certa forma frustrado com isso. Não que eu tivesse cem reais para dar se ela quisesse, pois não tinha. Eu queria sentir seu olhar comprado, da mesma forma como ela tinha vendido seu corpo pra mim e para o Sérgio. Eu fui o seu amante primogênito, como parte do combinado com o Sérgio. Primeiramente, ela despiu-se, ficou inteiramente nua, sim, intensamente nua. Olhava-a com olhos de cão faminto, tentando, buscando quais as melhores respostas para me fazer entender a silhueta do seu corpo. Meu cigarro queima, queima e, a fumaça sobe assim distorcendo meus olhos, lacrimejando-os, fazendo com que eu não a veja ou que assim acreditasse. Mas, enxergava bem, mesmo estando por trás das cortinas de fumaça e de todo o clima que nos cercava. Eu queria crer, tentei por minutos entender seu corpo, sua voluptuosidade, e as idéias que ali pairavam esquecidas. Mas não, não existia nada que eu pudesse fazer; tudo estava tão distante de mim naquele momento que preferi fazer os cálculos da sua beleza... Só somatórios. Ela caminhou em minha direção, caminhou não, gingou, bailou com suas pernas de bailarina. Ahhh sim, que belas pernas por sinal, carne macia as das suas coxas, carne assim de primeira, carne nobre. Eu permaneci assim sentado à beira da cama, tragando compulsivamente meu cigarro tão infinito, tão pecaminoso. Uísque, cadê o uísque? Sim, peguei-o, eu queria fazer o meu clima: “vamos esquecer o verão, pulemos diretamente para o outono”. Por que uísque barato e cigarro combinam tão bem com sexo? Não sei, não sei nem por que estou pensando nisso agora, e por que penso uma porrada de coisas assim do nada. Minha cuca pede socorro, eu peço alarme, peço alarde. Ela arrepiou meus cabelos com suas mãos, puxou-os com moléstia, com força, porém de forma carinhosa. Olhei-a bem nos olhos, fitei-a enquanto seu rosto aproximava-se, ela me beijou. Beijo bom, encaixado, ensaiado, apaziguado, fresco; nem tão molhado, nem tão seco, nem tão cheio, nem tão vazio. Perfeito, se é que isso existe. Ela tirou minha camisa, jogou-a em cima do ventilador e puxou-me de volta, de volta para o castigo que seu olhar oferecia. Empurrou-me, deixando-me de forma tão estirada na cama, de forma tão rendida. As mulheres são suficientes, querem sempre ir ao fundo de tudo, espremendo-nos, retirando o último caldo de nós. Pois bem, ela ficou por cima de mim prendendo-me no meio de suas pernas. Eu estava agora de coleiras. Toquei-lhe o seio com suas reverberações inexplicáveis com uma das mãos. Abri os braços sobre a cama, estava sendo crucificado, como um dia Cristo foi. Ela me beijou, passou sua língua sutilmente em meu rosto, e foi descendo, descendo pelo meu queixo, pescoço, peito e abdômen. Eu segurava-lhe pelos cabelos com força, quase que os arrancando, enquanto ela dedilhava suas notas sobre o meu pau. Com a minha outra mão levei o cigarro à boca, aspirava a fumaça enquanto a fazia transpirar. Eu olhava o teto enquanto ela divertia-se abrindo o fecho ecler da minha calça; olhava quase inerte as estrelas plastificadas ali coladas, estrelas de formas e tamanhos distintos que brilhavam, luziam, no escuro. Senti o frescor da sua boca tateando e da sua saliva lubrificando-me suntuosamente. Sim, era minha excitação máxima, como outros tão selecionados homens já sentiram na pele de seus paus. Ela percorria sobre mim como uma enguia, escalando sobre o meu corpo com suas garras afiadas, ferindo-me de um prazer sujo. Beijava-me como se eu fosse o amor da sua vida, honrando com louvor o seu par de seios. Meu cigarro apagou-se e eu deixei-o cair no chão ao lado da cama, estava na minha vez de senti-la, eu queria sugar-lhe pra dentro de mim, queria ouvir seu sussurrar ao pé do meu ouvido. Enfiei dois dos meus dedos em sua vulva e seus olhos fecharam-se como quem não tem vergonha de se declarar excitada; apreciei-lhe tão intimamente com minha língua que seu corpo levitava sobre a cama. Sim, ela estava pronta, podia sentir isso na ponta da minha língua, nos meus lábios a sua ebulição mais profunda. Ergui-me sobre ela e com um único movimento, penetrei-a tão voluptuosamente, tão veementemente, tão tempestuosamente que ficamos encaixados como uma peça certa de um quebra-cabeça. Seus gemidos apavorados ecoavam pelos quatro cantos do quarto. “Vira pra mim”, - eu pedi com uma entonação de ordem, e ela sem ao menos dizer uma única palavra virou-se. Olhei primeiramente, admirei-a para ser mais correto, suas curvas tão pecaminosas merecia tal feito. Seu corpo se mexendo gritava, suplicava de fato para que eu fosse o seu término; e de fato, era o que eu queria ser. Segurei-a pela cintura, enquanto seu rosto afundava sobre o travesseiro, e sim, meti-lhe com tudo o que eu poderia. Entre gemidos ela pedia-me: “Vai, vai, não para, não para”... Isso pra mim foi uma sinfonia. Movimentos horizontais tão encaixados que de fato, éramos apenas um indivíduo de quatro pernas, duas bocas, quatro ouvidos e dois seios. Tudo perfeitamente para se deixar relaxar, tudo propício a isso. Seu gozo saiu quente sobre mim, saiu em forma de grito, de gemido ou apenas de um esplendido sussurro que se fazia voraz naquele momento. Faze-la ter um orgasmo fez-me ter um também... Quando tudo estava acabado deixei meus cem reais na cabeceira ao lado da cama, dei-lhe mais um puxão no cabelo e vi seu rosto humilhado. Nada que afetasse a mim diretamente, não aquele olhar pedinte, aquele olhar que queria me roubar alguns reais a mais. Eu poderia até dar-lhe mais algum dinheiro se eu tivesse sobrando, porém não tenho nenhum puto para passar meus outros dias solitários. Como disse, se eu o tivesse daria sem problema algum, não por seus olhos, e sim, pela foda que tivemos!
Assim que saí daquele quarto, foi-se o Sérgio apressado feito uma mula, bufando feito um boi bravo quando seu pau é instigado. Fiquei na sala da casa daquela mulher fumando meu cigarro em paz, relaxado em um sofá como deveria realmente estar. Não foi muito tempo que estava ali concentrado com meu cigarro que os gritos libidinosos começaram a ecoar de canto a canto. Depois de algum tempo, Sérgio surgiu com um sorriso estendido de orelha a orelha, feliz como um adolescente quando faz pela primeira vez sexo. Fomos embora, ela levou-nos ainda nua até a porta, e assim tudo tão prontamente desapareceu-se num segredo.

Visitem a coluna que escrevo no site Trópico de Câncer clicando aqui

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