sábado, 12 de fevereiro de 2011

Conto – A fantástica história que se escondia no útero de Maria Isabel

   Providencialmente antes de começar a relatar algo, eu digo sem estremecer as minhas bases que amo Maria Isabel. Tão belos são seus olhos castanhos, tão resplandecentes são as vestimentas de pele cobrindo toda aquela carne magra, como são belos aqueles seios arredondados, aveludados, seios tão firmes, que diria que qualquer criança o trocaria por qualquer urso de pelúcia. Tudo o que eu poderia esperar dela era construir definitivamente uma família. Quando a beijava sentia meu corpo oscilar, sentia que a qualquer momento nossos lábios seriam suturados entre as salivas repetidas que trocávamos em qualquer canto escuro. Não digo totalmente de algo carnal, pois a carne nasceu para ser devorada, servindo apenas para completar o espaço que falta dentro do meu estômago. Era muito mais do que isso. Tinha que ser... Toda vez que sentia as mãos salientes de Maria Isabel percorrendo pelo meu peito era como se meu coração quisesse pular de dentro de mim para dar-lhe um grande abraço. Eu tinha a necessidade de ver as nossas sombras juntas, mescladas, compartilhadas pelo mesmo feixe de luz.
   As horas martelavam incessantemente, os ponteiros decaíam, mergulhavam intermitentemente na profundeza e ao mesmo tempo queriam respirar, lançando uma corda para enforcar o número mais alto; e nesse movimento cíclico de funcionalidade, entre se salvar e morrer, as horas eram extintas, queimadas rapidamente como nos cigarros que tragávamos. Amávamos-nos tanto e era tanta a libido que circulava entre nossas veias, que o destino fez o seu papel perfeitamente: Maria Isabel estava grávida...!
   A felicidade ao mesmo tempo em que me enchia fazia meus músculos retesarem. Primeiramente arrumaria um emprego, segundo procuraria uma casa para vivermos e terceiro oficiaria nosso relacionamento. Queria dar uma grande festa, uma daquelas que o noivo fica tão doido que nem ao menos consegue dizer sim. Porém, eu queria dizer essas três letras com toda certeza que se pode ter. Os planos percorriam pela minha cabeça, pois eu queria fazer tudo certo e mostrar a todos como se é feliz quando se pode compartilhar isso com alguém. Contei a todos na cidade que iria ser pai e que dentro de alguns meses me casaria com Maria Isabel; estava pronto para estar ainda mais completo. A cidade queria, desejava, se preparar para uma grande festa. Porém, Maria Isabel puxou-me pelos braços e me disse: “Eu vou abortar”.
   O meu céu encheu-se de vermelho e o meu coração que antes queria abraçar desejava enforcar-lhe:
- Como assim Maria Isabel abortar? Pra que? - Eu vou assumir todas as minhas responsabilidades e você sabe bem disso. Porém, ela parecia estar decidida demais para desistir do que estava memorizado na sua mente:
- Não quero ter um filho nessa altura da minha vida – respondeu ela com os olhos molhados – Tenho tanta coisa para viver, tanta coisa pra ver, que ter um filho é a única coisa que não quero ter nesse momento.
– Não que eu não goste de você, às vezes acho até que te amo, mas a questão primordial é que não estou preparada pra tanta responsabilidade.
  A cada palavra que Maria Isabel proferia era uma facada dura no meu peito, era ela tentando se livrar do meu sonho para ter o dela. Fui embora tão desesperadamente da sua frente, tão furioso, que nem seu choro foi capaz de me fazer refletir pra onde estava indo... E a partir do meu desespero algumas pessoas me perguntavam: - Quando que o mais novo papai vai se casar? Pensaram no nome do bebê? Está feliz? Você se sente com sorte, meu filho, por se casar com uma mulher tão linda? Essas notas estavam doendo no meu ouvido, minha cabeça parecia girar e tudo o que eu queria era gritar e sumir num sopro de vento qualquer. Foi então que tive a idéia mais louca que alguém poderia ter...
  Em plena praça pública eu dizia tudo o que havia acontecido e as pessoas cada vez mais iam se aproximando para me ver cantar todo o meu lamento. Estava decidido a fazer um abaixo assinado impedindo que Maria Isabel abortasse. Eu havia provocado uma revolta popular.

2 comentários:

  1. Uma grande satisfação conhecer teu blog, e ler teu conto que de pronto! Gerou em mim reminiscências.
    Uma breve estória, que trás muito pra se pensar.

    Grande abraço.

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  2. Guilherme, seu conto deixou-me envolvida do início ao fim. Desejaria expressar em palavras o que deveras senti ao ler. Um amor, uma vida e uma decisão. Tudo ocorreu em uma alucinação incrível e o demenhar do conto envolvente do início ao fim. Envergonho-me de não comentar dignamente ao tamanho do conto, mas o que posso dizer que ele está incrivelmente belo e conduz com uma reflexão grandiosa. Literalmente este blog reserva grandes leituras... Estou seguindo-se e coloquei-te na minha lista de blogs preferidos. Faço isso por que eu quero, não precisa fazer qualquer outra coisa apenas apenas para agradecer. Obrigada pela visita e fico aqui, ansiosa, para o próximo conto.

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