domingo, 2 de maio de 2010

Canto do Equador

Pra mim obscenidade é a guerra!

Corri meus olhos sobre aquela pequena mulher e pensei inúmeras formas de lhe dizer o que sentia. Queria fazer da sua pele meu cobertor de células de cetim, enxergar-lhe por dentro das suas calças de couro e sentir o tinir dos seus lábios estalando... Sim, como queria. Uma menina que aos poucos coloca esses pensamentos dentro da minha cabeça, não pode passar-se despercebida, ainda mais por olhos tão certos e maduros como os meus. Não posso imaginar ninguém mais do que ela para estar comigo, para dormir comigo: “pelo menos naquele instante momento”. Ela tem uma beleza distinta das muitas variedades que costumo encontrar, e não só por ter uma complexidade que se diz incompreendida, mas também pela forma aprazível do seu rosto e das suas coxas. Sinto no fundo da minha maldade, no poço sem fim da minha canalhice que ela quer algo comigo também, sem colocar pontos ou vírgulas. Eu vi dentro dos seus olhos lúbricos, o interesse e a vontade dela em me descobrir. Ficava admirando-me enquanto eu falava sobre Henry Miller; e notoriamente a necessidade que ela tinha em fazer-se um conto meu. Poderia facilmente escrever dez páginas apenas descrevendo-a, apenas beijando o seu pescoço. Sua bebida favorita era vodka, não que ela tenha me dito, mas por sempre voltar do bar com uma dose pendurada em seus braços. Bebia como um passarinho, bicando com elegância, embriagando-se de forma homeopática. Não devia ter muito mais do que dezoito anos, isso era certo, pois estava no início da sua faculdade de literatura. Entre uma bicada e outra em sua vodka, recitava pra mim trechos de “Romeo e Julieta” como não poderia ser diferente. Achei tudo formidável, pois sua voz nasceu para Shakespeare e para cantar-me aos ouvidos. Seus pés surpreendentemente começaram a roçar nas minhas pernas e ainda tão mais eram seus olhos compenetrados em mim, tudo parecia não ter mais importância para nós; o que era para ser acabou sendo ligado diretamente na fonte, e nossos carbonos estavam agora eclodidos, sem existir sequer palavra para descrever nosso composto orgânico desmantelado... Estávamos, de fato, em uma combustão. Segurei-lhe as mãos, mordi-lhe a orelha e sussurrei: “Vou ao banheiro, siga-me”. Sem deixá-la responder, levantei-me e segui meu caminho ao banheiro do bar. Alguns segundos depois; ouço quatro batidas fortes na porta. Destranquei o trinco e a abri para ver se era realmente quem eu estava pensando que fosse. Sim, era ela, e estava toda possuída de seus atributos femininos, com seus cabelos caindo sobre o rosto; deixando-a ainda mais irresistível e suntuosa em sua beleza incandescente. Ela empurrou-me de volta ao banheiro com uma das suas mãos em meu peito, seu olhar parecia sedento, e sôfrego de um desejo que iniciou-se entre as suas pernas. Sutilmente, ela fechou a porta com as costas e ficou parada fitando-me; seu corpo parecia gritar meu nome, como se fosse um engodo, como se quisesse descambar a lua até nós. Fui até seu encontro, segurei uma das suas pernas e enrolei-a em minha cintura, acariciei seu rosto mansamente enquanto fechava diante de mim os seus olhos: “Estava condenada, ao seu gosto, à sua entrega”. Nossos lábios como conseqüência foram suturados na presença de um beijo, foram encaixados no feitiço incompreensível que nos cercava. Minhas mãos percorriam a sua cintura, caminhavam pelas suas coxas sóbrias, e derretiam-se pela sua vulva de fina pele de flor. Levantei a blusa e toquei-lhe os seios, seus gemidos explodiam nos meus ouvidos, misturados a um ranger de dentes; e sua voz pedia-me mansamente para sugá-la, logo, de uma vez. Beijei seus mamilos róseos, passei minha língua entre as formosas curvas dos seus seios e segurei-a bem forte pelo cabelo enquanto ela se ajoelhava à minha frente. Desabotoou minha calça e tomou o meu pau em suas mãos puras, e com uma destreza, uma perícia que jamais eu havia sentido, colocou-o em torno de sua boca, em seus lábios, apenas para provocar-me, para depois, finalmente chupar-me até o talo. Ergui-a em cima da pia, retirei sua calça e toquei suas pernas nuas, alisei-a em meio a alguns apertões enquanto ela transava-se em torno de mim; apertava-me como se não quisesse mais deixar-me fugir. Ela esprimia meu rosto sobre os seus seios e sem fazer sequer força, com a naturalidade dos amantes, penetrei-a tão vividamente que senti a quentura do seu interior mais profundo; aveludado e acolhedor é seu intimo, afetuoso e justo, como certamente havia imaginado. Meu corpo oscilava no encontro do seu. Nossos corpos ficaram unidos em meio a movimentos peristálticos tão elaborados e ensaiados. O meu amor próprio prevalecia-se daquele contato com a sua pele; e seus risos de prazer cantavam as notas presas dentro do seu útero. Nossos olhos fecharam-se, estávamos tão cegos como uma lâmpada queimada. Dentro de nós eclodiu o desejo de saciar-se, de gozar, de terminarmos o que havíamos prontamente começado, e que velozmente, no acelerar de nossos movimentos, se resumiria a vozes tão dissonantes e lânguidas; com o espasmo do seu corpo e a certeza da realização de um conto seu.

6 comentários:

  1. Olá, Gui!

    Andei sumida, acho que "faltou lua" para mim também. Acabei de ler o que perdi, no que fora postado a dias atras. E suas palavras me fizeram companhia nessa noite quente de domingo. E sabe de uma coisa, Gui!? Da vontade de ler-te a noite inteira.../

    Amei o conto, é lindo. Garota de sorte essa, hein!?... Como é que eu faço para virar poesia!?.../

    Beijo, poeta!

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  2. É minha (con)spiração -Ellen Page



    Bem vindo ao meu mundo, volte sempre!

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  3. O problema de só fazer o que se tem vontade é que a vontade muitas vezes chega disfarçada ...pode parecer vontade,mas não é...a gente se confunde ,acha que é desejo,mas é vontade, acha que é vontade,mas é gula, acha que é gula,mas é fome...

    Lindo conto! Boa semana!

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  4. É uma daquelas transas que se compõem em sonhos, que só se realizam na vida real inesperadamente... muito belo conto.!
    Realmente, "obscenidade é a guerra".
    abraço, té mais!

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  5. Mais uma vez, estes cantos antropofágicos de corpos que se devoram e seguem imersos

    em versos de se sentirem por dentro,
    em cartografias de prazer e embriaguez,

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  6. Estás então muito bem armado! (risos). Li me embalando no silêncio da canção que não tocava aos meus ouvidos... 'não existe pecado do lado de baixo do Equadoor'...

    Abraços! Inté!

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