segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Conto – Súplicas em nossa casa de vidro

Somos os frutos da intuição, são aqueles pequenos pedaços que urgem da simplicidade de sermos desconhecidos. Vivemos diante da eternidade com conceitos pré-existentes, que se revigoram na alegria de estarmos quase sempre errados; são oportunidades manifestadas na espontaneidade de nos descobrirmos a cada segundo juntos.
Nossos traços ecoam um no outro, na imensidão do seu negro eu crio minha esfera de amor branco. Fomos ligados não por que queríamos fraquejar e sim como conseqüência do acaso. Transcendemos nossas próprias vontades nas totalidades das constelações que giram ao nosso redor. A evolução gradativa da felicidade que segue o engatinhar natural; são as modificações na essência da sua natureza que nos causam dor e sofrimento.
Mantivemos equilibrados dentro do nosso desequilíbrio individual. Em você foi criado o princípio absoluto de sermos opostos e complementares. O meu frio, manifesta o seu calor, e é na sua luz onde se revela a minha escuridão.
Quando os vínculos se criam raramente eles se quebram. Criamos dentro de nossas concepções a virtude do bem... Somos muito mais do que detalhes ao vento. É a sua parte gritante no comportamento de ouvinte; o fascínio de sua pele queimada de sol que me aquece e me refugia das brumas da minha mente.
Você é doce como um sonho em sua parte literal de entendimento... Seus gestos delicados de menina que descobriu em sua tentação o deleitar da cobiça dos homens. Eu me rebelo como uma insulina, quebrando as moléculas de glicose no seu sangue; não pelo modo prejudicial, pois é dessa forma que nos equilibramos diante do mundo. Sou apenas o princípio básico do anabolismo, faço uma simples síntese do meu amor com o intuito de receber as moléculas do seu amor complexo.
Lembro-me dos passeios que fazíamos no verão, íamos sempre pra “Praia do Sono” desfrutar o nascer do mais belo sol. Ficávamos estirados na areia contabilizando o brilho das estrelas, era o nosso pensamento beliscando o futuro. Todos os anos nós manifestávamos as mesmas vontades, era o esquecimento momentâneo das quatro paredes de poemas do nosso quarto. Podíamos jogar ao mar nossas mais belas poesias, deixando as ondas carrega-las até as bordas do planeta, e relembrarmos apesar da imensidão do mundo que estamos em casa.
Acho engraçado quando recordo de você se queimando com as águas vivas repetidas vezes, nunca aprendia a lição. Essa teimosia... Impossível de esquecer. Nós caminhávamos no alto das montanhas, aventurávamos sozinhos pelas trilhas dos matagais com o intuito de chegarmos ao outro lado. Sempre ficávamos surpresos com a imensidão daquele mar... Viajamos e nos perdíamos por horas tentando medir o comprimento da linha do horizonte. De tudo isso o que eu mais sinto saudades é dos planos que fazíamos...
Hoje você não está mais aqui comigo, partiu sem rumo para as estrelas que você tanto estudava. Não posso imaginar outro lugar que você possa estar, pois seu luzir me lembra a todo instante o encantamento da lua; o feitiço presente no simples movimentar de lábios, o simbólico e atrativo crestar contido no seu sorriso.
Eu me culpo a cada dia por sua partida... Não deveria dirigir tão alcoolizado. Essa é a cruz que nem Cristo ousaria carregar. A dor da culpa se faz presente em mim, enferrujando meu coração a cada dia, a cada noção de revolta. O simples lembrar dos fatos é como se eu recebesse uma punhalada afiada pelo tempo... Queria eu dizer que foi o tempo que errou.
Quando meus olhos abriram lentamente ainda estavam atordoados pela a escuridão dos meses. Eu ficava tentando decifrar através das sensações o que havia acontecido. A mistificação de todos ao redor da cama do hospital me revelavam uma felicidade inquieta. Todos estavam felizes por eu ter despertado do terrível coma, mas ninguém sabia me dizer que eu de fato havia morrido.
Os meses foram passando e você presente dentro do meu coração. Queria justificar os meios... Por que Deus não havia me levado junto? Eu fui o culpado de tudo, e quem deveria se afugentar do materialismo obrigatoriamente tinha que ser eu. Não entendo.
Você sempre tão viva, me consola até mesmo quando não posso ouvir a sua voz. Lembro-me de uma vez que você disse que decepções são como as vírgulas; paramos apenas para dar uma respirada, ou seja, recobramos a consciência e descobrimos que devemos sempre continuar e superar as dores que a vida nos impõe. Querida, eu sei que é triste, mas eu não vejo à hora de chegar ao ponto final dessa história, para ficamos juntos novamente.
O nosso maior plano era o de ficarmos bem... Como sinto saudade do calor dos seus abraços; aquela felicidade magnética que puxa e te prende... O meu pólo negativo depende arbitrariamente do seu pólo positivo para se estabilizar. Somos Yin e Yang, e estamos ligados pelo movimento contínuo e constante da evolução dos atributos de um para os atributos do outro.
Vejo o mar do mesmo ângulo que vimos tantas vezes juntos, procuro nos gigantescos vãos das estrelas onde é que um dia eu estarei. Eu te emoldurei no meu coração sangrando do jeito que deu, e te levei a nossa praia, para admirarmos o crepúsculo juntos mais uma vez. Lanço novos poemas ao mar pra que eles se espalhem em tudo, pois nos amamos assim sempre... Vivemos e seremos livres independente da situação que estamos. Estaremos sempre juntos, pois estamos perdidos no mundo e ele é a nossa casa... Nossa casa com as paredes de vidro.

10 comentários:

  1. Que lindo! Triste, mas belo!


    mos faz ver como podem ser fortes os vinculos que criamos com outras pessoas.

    "O meu frio, manifesta o seu calor, e é na sua luz onde se revela a minha escuridão."

    Beijo

    By: Pequena sonhadora

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  3. Obrigada pela visita
    volte sempre lá.
    Quanto ao seu post,
    há momentos assim
    confuso e dolorido, digamos que
    sem solução.

    Beijos abstratos

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  4. Obrigada pelo passagem em meu espaço...as mensagens ve pra todos e de todas as formas...seja poema, trecho de um texto ou do dia que acordou...com rimas ou sem elas... com erros ou acertos...mas com uma única coisa...o Sentimento...ele move seja no amor ou na dor...(isso não foi rima) foi sentimento... Belo espaço estarei acompanhando e fique sempre atento a sua voz aquela que fala na dúvida de uma escolha...
    By

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  5. Olá,querido!
    Acho que interpretei mal mesmo. Desculpe
    obrigada pelo toque do acento, já arrumei ...
    rsrsrsrsrs
    Beijão, Cibele

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  6. Gui, para mim, aqui nunca será um diário mofado. Este blog é tão bom, seu texto tem TAMANHA QUALIDADE, que este diário é para mim um diário arejado. Putz grila! Que maravilha de texto! Belíssima carta. Besos, Fan*

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  7. Lindo, Guilherme!
    Não me canso de voltar aqui e (re)ler tudo que escreve. É tão cheio de emoção,de verdade.

    Beijo, e semana de luz a ti!

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  8. Lindoooo!
    adorey teu blog!!
    beijos

    dê uma passadinha em meu blog tb!

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  9. Cheguei aqui por uma indicação de alguém q me é muito especial. Me emocionei ao ler o texto. Lindo!

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  10. Lindo..
    Gostei da teoria dos erros também!

    Abraços!

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