Versão masculina dos fatos:
Seus olhos claros de mulher de primeira logo me fisgaram. Meus sentimentos pulsavam com a verdade sentida na casualidade daquele momento. A solidão que eu sentia nos meus dias parecia que se esvaíra em segundos. Como descrever a emanação da vida que resultou na cor dos seus negros cabelos? Não sei. É como se o fantasma da sua existência me cantasse e me encantasse, como se fosse à refração da luz na água contida no aquário do meu ser.
Esse foi o sintoma de vê–la. Ela adentrou no bar, enquanto meus olhos estagnavam para o nada. Talvez eu já tivesse ultrapassado os limites do meu corpo, acho que bebi demais naquela noite. Sabe como é sair com amigos farristas, sempre resulta em embriaguez. Mas quando ela entrou rapidamente meus olhos procuraram o alvo certo. Parecia que eu tinha ingerido ânimo, vontade, sei lá... Eu a mirava mais do que aqueles homens bobos que perdiam suas noites preciosas jogando aquela porcaria de dardos. Eu a olhava, a fitava como um animal; estava encantado como o seu luzir, era como um engodo, e eu era o peixe prestes a cair na sua rede.
Meus amigos perceberam meu olhar furtivo e logo mexeram comigo, me desafiando ou me encorajando... Não me lembro bem. Só sei que apontei meu dedo indicador para o rosto de um deles e disse bem baixo.
– Aquela mulher será minha.
- Ahhhhhhhhhhhhh. Vai lá gostosão.
- Vocês querem apostar? – Eu disse esbravejando certeza.
Riram, debocharam de mim. Não sabiam eles que isso me encorajou ainda mais.
Acendi um cigarro. Passei a enxergá-la pelos vãos da fumaça. Seu vestido vinho era o adorno da sua pele branca. Olhando para ela eu podia sentir seu corpo junto ao meu... Era o prazer mistificado naquelas primaveras de amor.
Eu fui ao seu encontro todo desengonçado, parecia até que eu havia pulado de cabeça em uma piscina de whisky. Porém nada poderia me conter, pois eu estava sendo atraído pelos recônditos espaços da incompreensão do novo sentido em mim.
Cheguei perto dela de forma meio ríspida... Cheguei aos seus ouvidos e deixei fluir o que estava dentro de mim. Acompanhando a música do ambiente cantei:
- “Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...”.
Saiu tão natural, e tão carregado de sentimentos que foi como se houvesse saído um peso daqui de dentro... Uma expressão de prazer que se iniciava, um lograr imperecível.
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? – Me disse ela.
Será que eu canto bem ou é apenas educação da parte dela? Tenho quase certeza que é educação.
- Você quer um cigarro? – eu ofereci
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo.
- Engraçado eu também bebo.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa?
- Não. Ahahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
Então Camila é o seu nome... Eu sou horrível com nomes!
- Rogério, o prazer é todo meu.
Enquanto eu tragava meu cigarro, eu a reparava cada vez mais, é como se meus olhos tivessem ligeiramente encontrado o deleitar do vício. Estava viciado... Camila meu mais novo sinônimo de dependência.
- Você quer me fazer chorar? – Me disse ela
Eu fiquei pensando... Engraçado como aqueles três segundos pareceram horas. Maldita cachaça. Por que isso? Não entendi... Inventei uma reposta.
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”. - Eu a disse.
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra...
CARALHO... Por essa eu não esperava, estava me deparando com uma pervertida. Eu dei um sorriso verdadeiro, fiquei de certa forma feliz por termos tamanha ligação.
A noite ia pingando a cada segundo admiração e ostentação. Todo sentido na vida é feito de causa e efeito, o nosso prolongou-se e finalizou-se num ladino beijo... Beijos formados nos moldes do “Lego”, aquelas pecinhas que juntas alcançam qualquer formato. Senti que podíamos ser muito mais do que um casal. Poderíamos ser castelos inteiros, de cores e formatos diferentes, somos muito mais do que uma simples conseqüência... O pensamento que transcorre no acaso, o preenchimento labutado pela solidão dos meus dias até então.
Depois daquele estranho e indescritível beijo, eu a pude sentir no calor do meu abraço. Minhas mãos percorriam pela sua formosa cintura, seu corpo nos moldes da protuberância me queimava de leve, é como se a fagulha do desejo tivesse sido evocada, o incêndio que não se pode controlar... Estávamos jubilados pelo desejo dos nossos corpos.
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo.
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Vamos até minha casa. Ela me disse com um ar de segurança.
Enquanto ela foi avisar as suas amigas que ela iria embora, eu discretamente fiz um sinal de positivo para os meus amigos. Tudo bem discreto para ela não reparar. De certa forma estava me vangloriando, pois não apenas consegui ter a menina mais linda daquele bar, como também...
Pegamos um táxi, e nos beijávamos diante de uma pequena e insignificante platéia, o motorista. Deixamos o táxi e subimos as escadas do seu apartamento, as paredes nos escoravam... Naquele momento era difícil pensar em temperança, mas ela se controlava e me puxava pelos braços me levando até o seu ninho de amor. Chegando ao apartamento, a primeira coisa que eu vi foi um sofá, tentei atira-la sobre ele. Ela esquivou-se com uma habilidade digna de nota. Imperatriz Leopoldinense nota 10. Eu pensei gargalhando por dentro. Ela sorriu pra mim e foi pegar uma bebida.
- Essa mulher está me deixando louco. - Disse sussurrando.
Enquanto ela pegava a bebida, eu parei defronte ao espelho, arrumei o meu cabelo, esfreguei meus dentes com o dedo indicador e coloquei um Trident de canela na boca. Depois dessa cena ridícula, fiquei abismado com os livros em sua estante. Fiquei surpreso por ela gostar de Maiakovski. Olhando mais vi um livro do Kama Sutra. Taradinha ela... Quando ouvi seus passos se aproximando tirei rapidamente o chiclete da boca e o joguei certeiramente em uma samambaia que estava ali perto.
Ela me entregou o Whisky, eu dei apenas uma bicada e o deixei de lado. Eu a abracei e fui direto ao assunto:
- Me leva pra sua cama.
Ela me levou, sentia sua sutileza em sua doce condução. Fomos tirando a roupa, parecíamos que estávamos em câmera lenta... Tirei a camisinha do bolso e nos precavemos como deve ser. Alisava seus cabelos, sentia a forma do prazer em seu rosto. Fui descendo a mão. Sua pele lisa como seda, a delicadeza estava presente literalmente na forma de mulher. E que mulher.
Fizemos a nossa musica seguindo a sua cadência, éramos o fruto de seu ritmo. As estrelas foram atraídas pela nossa gravidade, caíam e com o tempo se tornaram em uma grande labareda de fogo... Somos nós queimando em sua cama.
Ficamos abraçados depois da consumação do ato. Fechei meus olhos fingindo que havia dormido, quando os abri reparei que ela havia caído em um singelo sono. Reparava na silhueta de seu corpo nu... Decidi dormir também.
Quando acordei, seus olhos me fitavam com uma doçura apaixonante. Olhei para seu corpo e tive a certeza de que queria reviver a sexta-feira. E revivemos. Eu estava com uma preguiça tão grande e escancarava sem nenhum pudor... Ela levantou-se da cama e rapidamente voltou com uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoito. Comemos juntos... Eu decidi que iria embora.
Ela me perguntou se eu queria tomar banho. Eu disse que não, pois queria ficar com seu cheiro enclausurado em mim. Peguei o seu número e anotei na agenda do meu celular e vice e versa. Eu fui embora pasmo com aquela mulher, estava feliz da vida. Queria vê-la centenas de vezes. Fui descendo as escadas, tentando recordar todos os momentos... Peguei o celular e liguei pra todos os meus amigos e disse esbravejando:
- Ganhei a aposta, Porra!
Autor: Guilherme Canedo
Versão Feminina dos fatos:
Não é porque é uma noite de sexta-feira que toda garota tem que estar indefectivelmente preparada para sair e arrasar quarteirões. Mas, a pedidos, ela saiu com suas amigas, para refrescar o ânimo após uma semana de trabalho habitual, humano, igual ao de todos os seres humanos habituados ao trabalho mediano numa sociedade capitalista. Tomou um banho, colocou as pernas para o alto durante quinze minutos e escolheu uma blusa decotada cor de vinho, realçando sua pele branca. O ânimo ainda não estava lá essas coisas, conseguiu pensar que aquela seria uma boa cor para afastar abstêmios e, quem sabe, conseguiria manter conversas ininteligíveis com bêbados ou trazer suas amigas de volta para casa, caso passassem do limite alcoólico.
Chegando ao bar, elas pediram as bebidas e suas amigas foram para a área onde se jogam dardos. Ela preferiu ficar no balcão. Ela tinha as mãos trêmulas, não curtia muito jogar dardos, mas adorava ver as pessoas acertando a pontaria. É algo que julgava fazer parte do caráter de alguém: acertar na mira! Mas, pediu ao barman um Campari com suco de laranja e ao se virar, viu alguém fazendo dela mira. Não resistiu e sorriu naturalmente.
Era um rapaz bonito, cercado por outros rapazes. Eles estavam bastante animados, já deviam estar lá no bar há algum tempo. Ela continuou sorrindo, mas achou melhor desviar aquele olhar capturado... mesmo sem querer. Olhou para o jogo de dardos, por pouco tempo. A captura tinha sido eficaz. Quis voltar o olhar para o moço, mas se segurou, olhou para seu copo de Campari, ficou mexendo sua bebida. Levantou o olhar, lá estava o dele: olhando firme para ela, sorrindo. Ela sorriu de novo, era involuntário... E ele andou até ela, sorrindo. Chegou cantando, acompanhando a música de fundo:
- Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? Ela respondeu na hora, e pensou: Eu sou assim, só consigo elogiar quando gosto de alguém...
- Quer um cigarro?
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo. Disse a moça e pensou: Ele ficou sem-graça, veio atacando com essa do cigarro, depois de chegar cantando Caetano... que mudança disrritmada...
- Eu também bebo. E bem.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa? Pensou: Tenho que ser bastante simpática, quero esse cara pra mim hoje.
- Não. Hahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
- Rogério, o prazer é todo meu. Ele disse de um modo todo pegajoso... Pegajoso o suficiente para grudar no desejo dela. Ele procurava jogar a fumaça do cigarro para o outro lado, mas acabava indo para os olhos dela, que disse com uma voz cheia de veludo:
- Você quer me fazer chorar?
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”...
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra... Ele sorriu verdadeiramente. Ela adorou ter sido tão espirituosa, mais até que seu decote. Ser espirituosa era uma característica dela, muito mais do que de suas roupas. Ela sentiu que alcançou um espaço dentro dele que ainda não tinha tocado com aquele comentário.
E a noite foi transcorrendo até o primeiro beijo. Mistura de whisky com Campari. Sabores indistintos dentro das duas bocas unidas. Foi quente, foi ato contínuo do beijo para o abraço bem apertado, levantados dos bancos, abraços em pé, tocando os corpos todos. Ele levantando os cabelos dela e dizendo gracinhas em seu ouvido, ela adorando como se fossem antigos conhecidos, antigos amantes. Mas, estavam no balcão do bar, o sinal do pudor tocou dentro dela, ela se afastou. Sentou-se. A música tocando alto. Ela resolveu olhar para suas amigas, se divertiam lá nos dardos. Ela estava abalada com a intensidade daqueles beijos, fazia tempo que não vivia nada assim. E ele falou:
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo...
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Ela falou depois de pensar um pouco. Seu coração disparara. Sim, o levaria à sua casa. Não devia nada a ninguém, estava resolvida. - A gente podia... Ficou reticente. Pensou um pouco mais, afinal de contas, não conhecia o rapaz. E daí? Segundos transcorreram no interior da jovem mulher, mensurando sua capacidade de decisão. Quando queria uma coisa, lutava por ela e a conquistava. Estava decidida. – Vamos até minha casa. Ela foi avisar suas amigas que estava indo embora e não o viu contar aos amigos com ar de vitória que sairia com ela.
Pegaram um táxi, se agarrando no trajeto, o calor deles estava bom demais. Chegaram. Subiram as escadas ainda aos beijos. Ela abriu a porta. Ele quis jogá-la no sofá, mas ela foi preparar uma bebida. Um whisky, com gelo. Deixou-o na sala, ele foi olhar a estante de livros. Ela achou isso muito positivo, aliás ela estava achando tudo muito positivo. Enquanto preparava o whisky, começou a se policiar: Eu vou dar pra ele, e só. Não preciso achar tudo positivo nele. Ele é uma gracinha, beija bem pra caralho, e só. Eu estou alta de tanto Campari, e só. Não devo beber este whisky, e só. E voltou para a sala.
Entregou o whisky para ele que bebeu um pouco e deixou de lado. Ele a abraçou e falou:
- Me leva pra sua cama.
Ela o levou e quis que o momento fosse doce. As roupas foram tiradas com delicadeza, as proteções foram tomadas com delicadeza também. Ele alisava seu cabelo e descia suas mãos pelo corpo macio daquela jovem mulher, encantado e cuidadoso para que seu desejo não se transformasse em rudeza. Mas, como homem e mulher que eram, no transcorrer dos fatos, o ato de suave se tornou vigoroso e os dois acabaram encharcados de suor. Poderiam ter caído um para cada lado da cama, mas permaneceram abraçados, suados, como se fossem amantes há muito tempo. Sintonia de corpos. Ela voltou a pensar que aquilo era muito positivo, mas percebeu o ressonar dele, ele havia dormido. E resolveu dormir também.
Na manhã seguinte, eles acordaram, ainda abraçados. Quando se perceberam assim, nus, claro que aproveitaram a ocasião e, mais uma vez, o desejo falou alto. Ela pensou que ele não tinha vontade alguma de ir embora. Mas, alguém tinha que fazer algum movimento nesse sentido... Ele não demonstrava nenhuma vontade de levantar da cama. A cabeça dela não parava: Sim, ele é ótimo, mas não pode ficar o sábado inteiro na minha casa... Nem conheço ele. Hahahahah! O que eu faço? Comida! Comida é um bom subterfúgio! Ela pegou na geladeira uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoitos e levou pra cama. Agia com muita naturalidade. Eles comeram juntos e ele se movimentou para ir embora.
Ela ofereceu o banheiro para ele tomar banho, mas ele não quis. Disse que queria ficar com seu cheiro o maior tempo possível, disse isso rindo, ela gostou de ouvir. E, rindo, pediu o telefone dela, anotando no próprio celular. E ela anotou o dele também. Ele foi embora. Ela ficou. Ficou lembrando da intensidade e da positividade daquela noite e daquela manhã. Entrou no chuveiro alegre por ter exercido sua feminilidade em toda sua potência.
Autora: Stella Arbizu - Uma grande pessoa que eu conheci, muito inteligente, amante da escrita, da música, e de cinema... Quando ela me convidou para escrever algo em parceria logo me subiu aquele desejo de realiza-lo de uma vez. Adorei nossa sincronicidade, ainda mais inventando uma história por msn. Foi algo que desejo muito repetir, pois me diverti muito!
veja o seu blog: http://paranaosecar.blogspot.com/
Seus olhos claros de mulher de primeira logo me fisgaram. Meus sentimentos pulsavam com a verdade sentida na casualidade daquele momento. A solidão que eu sentia nos meus dias parecia que se esvaíra em segundos. Como descrever a emanação da vida que resultou na cor dos seus negros cabelos? Não sei. É como se o fantasma da sua existência me cantasse e me encantasse, como se fosse à refração da luz na água contida no aquário do meu ser.
Esse foi o sintoma de vê–la. Ela adentrou no bar, enquanto meus olhos estagnavam para o nada. Talvez eu já tivesse ultrapassado os limites do meu corpo, acho que bebi demais naquela noite. Sabe como é sair com amigos farristas, sempre resulta em embriaguez. Mas quando ela entrou rapidamente meus olhos procuraram o alvo certo. Parecia que eu tinha ingerido ânimo, vontade, sei lá... Eu a mirava mais do que aqueles homens bobos que perdiam suas noites preciosas jogando aquela porcaria de dardos. Eu a olhava, a fitava como um animal; estava encantado como o seu luzir, era como um engodo, e eu era o peixe prestes a cair na sua rede.
Meus amigos perceberam meu olhar furtivo e logo mexeram comigo, me desafiando ou me encorajando... Não me lembro bem. Só sei que apontei meu dedo indicador para o rosto de um deles e disse bem baixo.
– Aquela mulher será minha.
- Ahhhhhhhhhhhhh. Vai lá gostosão.
- Vocês querem apostar? – Eu disse esbravejando certeza.
Riram, debocharam de mim. Não sabiam eles que isso me encorajou ainda mais.
Acendi um cigarro. Passei a enxergá-la pelos vãos da fumaça. Seu vestido vinho era o adorno da sua pele branca. Olhando para ela eu podia sentir seu corpo junto ao meu... Era o prazer mistificado naquelas primaveras de amor.
Eu fui ao seu encontro todo desengonçado, parecia até que eu havia pulado de cabeça em uma piscina de whisky. Porém nada poderia me conter, pois eu estava sendo atraído pelos recônditos espaços da incompreensão do novo sentido em mim.
Cheguei perto dela de forma meio ríspida... Cheguei aos seus ouvidos e deixei fluir o que estava dentro de mim. Acompanhando a música do ambiente cantei:
- “Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...”.
Saiu tão natural, e tão carregado de sentimentos que foi como se houvesse saído um peso daqui de dentro... Uma expressão de prazer que se iniciava, um lograr imperecível.
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? – Me disse ela.
Será que eu canto bem ou é apenas educação da parte dela? Tenho quase certeza que é educação.
- Você quer um cigarro? – eu ofereci
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo.
- Engraçado eu também bebo.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa?
- Não. Ahahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
Então Camila é o seu nome... Eu sou horrível com nomes!
- Rogério, o prazer é todo meu.
Enquanto eu tragava meu cigarro, eu a reparava cada vez mais, é como se meus olhos tivessem ligeiramente encontrado o deleitar do vício. Estava viciado... Camila meu mais novo sinônimo de dependência.
- Você quer me fazer chorar? – Me disse ela
Eu fiquei pensando... Engraçado como aqueles três segundos pareceram horas. Maldita cachaça. Por que isso? Não entendi... Inventei uma reposta.
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”. - Eu a disse.
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra...
CARALHO... Por essa eu não esperava, estava me deparando com uma pervertida. Eu dei um sorriso verdadeiro, fiquei de certa forma feliz por termos tamanha ligação.
A noite ia pingando a cada segundo admiração e ostentação. Todo sentido na vida é feito de causa e efeito, o nosso prolongou-se e finalizou-se num ladino beijo... Beijos formados nos moldes do “Lego”, aquelas pecinhas que juntas alcançam qualquer formato. Senti que podíamos ser muito mais do que um casal. Poderíamos ser castelos inteiros, de cores e formatos diferentes, somos muito mais do que uma simples conseqüência... O pensamento que transcorre no acaso, o preenchimento labutado pela solidão dos meus dias até então.
Depois daquele estranho e indescritível beijo, eu a pude sentir no calor do meu abraço. Minhas mãos percorriam pela sua formosa cintura, seu corpo nos moldes da protuberância me queimava de leve, é como se a fagulha do desejo tivesse sido evocada, o incêndio que não se pode controlar... Estávamos jubilados pelo desejo dos nossos corpos.
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo.
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Vamos até minha casa. Ela me disse com um ar de segurança.
Enquanto ela foi avisar as suas amigas que ela iria embora, eu discretamente fiz um sinal de positivo para os meus amigos. Tudo bem discreto para ela não reparar. De certa forma estava me vangloriando, pois não apenas consegui ter a menina mais linda daquele bar, como também...
Pegamos um táxi, e nos beijávamos diante de uma pequena e insignificante platéia, o motorista. Deixamos o táxi e subimos as escadas do seu apartamento, as paredes nos escoravam... Naquele momento era difícil pensar em temperança, mas ela se controlava e me puxava pelos braços me levando até o seu ninho de amor. Chegando ao apartamento, a primeira coisa que eu vi foi um sofá, tentei atira-la sobre ele. Ela esquivou-se com uma habilidade digna de nota. Imperatriz Leopoldinense nota 10. Eu pensei gargalhando por dentro. Ela sorriu pra mim e foi pegar uma bebida.
- Essa mulher está me deixando louco. - Disse sussurrando.
Enquanto ela pegava a bebida, eu parei defronte ao espelho, arrumei o meu cabelo, esfreguei meus dentes com o dedo indicador e coloquei um Trident de canela na boca. Depois dessa cena ridícula, fiquei abismado com os livros em sua estante. Fiquei surpreso por ela gostar de Maiakovski. Olhando mais vi um livro do Kama Sutra. Taradinha ela... Quando ouvi seus passos se aproximando tirei rapidamente o chiclete da boca e o joguei certeiramente em uma samambaia que estava ali perto.
Ela me entregou o Whisky, eu dei apenas uma bicada e o deixei de lado. Eu a abracei e fui direto ao assunto:
- Me leva pra sua cama.
Ela me levou, sentia sua sutileza em sua doce condução. Fomos tirando a roupa, parecíamos que estávamos em câmera lenta... Tirei a camisinha do bolso e nos precavemos como deve ser. Alisava seus cabelos, sentia a forma do prazer em seu rosto. Fui descendo a mão. Sua pele lisa como seda, a delicadeza estava presente literalmente na forma de mulher. E que mulher.
Fizemos a nossa musica seguindo a sua cadência, éramos o fruto de seu ritmo. As estrelas foram atraídas pela nossa gravidade, caíam e com o tempo se tornaram em uma grande labareda de fogo... Somos nós queimando em sua cama.
Ficamos abraçados depois da consumação do ato. Fechei meus olhos fingindo que havia dormido, quando os abri reparei que ela havia caído em um singelo sono. Reparava na silhueta de seu corpo nu... Decidi dormir também.
Quando acordei, seus olhos me fitavam com uma doçura apaixonante. Olhei para seu corpo e tive a certeza de que queria reviver a sexta-feira. E revivemos. Eu estava com uma preguiça tão grande e escancarava sem nenhum pudor... Ela levantou-se da cama e rapidamente voltou com uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoito. Comemos juntos... Eu decidi que iria embora.
Ela me perguntou se eu queria tomar banho. Eu disse que não, pois queria ficar com seu cheiro enclausurado em mim. Peguei o seu número e anotei na agenda do meu celular e vice e versa. Eu fui embora pasmo com aquela mulher, estava feliz da vida. Queria vê-la centenas de vezes. Fui descendo as escadas, tentando recordar todos os momentos... Peguei o celular e liguei pra todos os meus amigos e disse esbravejando:
- Ganhei a aposta, Porra!
Autor: Guilherme Canedo
Versão Feminina dos fatos:
Não é porque é uma noite de sexta-feira que toda garota tem que estar indefectivelmente preparada para sair e arrasar quarteirões. Mas, a pedidos, ela saiu com suas amigas, para refrescar o ânimo após uma semana de trabalho habitual, humano, igual ao de todos os seres humanos habituados ao trabalho mediano numa sociedade capitalista. Tomou um banho, colocou as pernas para o alto durante quinze minutos e escolheu uma blusa decotada cor de vinho, realçando sua pele branca. O ânimo ainda não estava lá essas coisas, conseguiu pensar que aquela seria uma boa cor para afastar abstêmios e, quem sabe, conseguiria manter conversas ininteligíveis com bêbados ou trazer suas amigas de volta para casa, caso passassem do limite alcoólico.
Chegando ao bar, elas pediram as bebidas e suas amigas foram para a área onde se jogam dardos. Ela preferiu ficar no balcão. Ela tinha as mãos trêmulas, não curtia muito jogar dardos, mas adorava ver as pessoas acertando a pontaria. É algo que julgava fazer parte do caráter de alguém: acertar na mira! Mas, pediu ao barman um Campari com suco de laranja e ao se virar, viu alguém fazendo dela mira. Não resistiu e sorriu naturalmente.
Era um rapaz bonito, cercado por outros rapazes. Eles estavam bastante animados, já deviam estar lá no bar há algum tempo. Ela continuou sorrindo, mas achou melhor desviar aquele olhar capturado... mesmo sem querer. Olhou para o jogo de dardos, por pouco tempo. A captura tinha sido eficaz. Quis voltar o olhar para o moço, mas se segurou, olhou para seu copo de Campari, ficou mexendo sua bebida. Levantou o olhar, lá estava o dele: olhando firme para ela, sorrindo. Ela sorriu de novo, era involuntário... E ele andou até ela, sorrindo. Chegou cantando, acompanhando a música de fundo:
- Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? Ela respondeu na hora, e pensou: Eu sou assim, só consigo elogiar quando gosto de alguém...
- Quer um cigarro?
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo. Disse a moça e pensou: Ele ficou sem-graça, veio atacando com essa do cigarro, depois de chegar cantando Caetano... que mudança disrritmada...
- Eu também bebo. E bem.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa? Pensou: Tenho que ser bastante simpática, quero esse cara pra mim hoje.
- Não. Hahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
- Rogério, o prazer é todo meu. Ele disse de um modo todo pegajoso... Pegajoso o suficiente para grudar no desejo dela. Ele procurava jogar a fumaça do cigarro para o outro lado, mas acabava indo para os olhos dela, que disse com uma voz cheia de veludo:
- Você quer me fazer chorar?
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”...
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra... Ele sorriu verdadeiramente. Ela adorou ter sido tão espirituosa, mais até que seu decote. Ser espirituosa era uma característica dela, muito mais do que de suas roupas. Ela sentiu que alcançou um espaço dentro dele que ainda não tinha tocado com aquele comentário.
E a noite foi transcorrendo até o primeiro beijo. Mistura de whisky com Campari. Sabores indistintos dentro das duas bocas unidas. Foi quente, foi ato contínuo do beijo para o abraço bem apertado, levantados dos bancos, abraços em pé, tocando os corpos todos. Ele levantando os cabelos dela e dizendo gracinhas em seu ouvido, ela adorando como se fossem antigos conhecidos, antigos amantes. Mas, estavam no balcão do bar, o sinal do pudor tocou dentro dela, ela se afastou. Sentou-se. A música tocando alto. Ela resolveu olhar para suas amigas, se divertiam lá nos dardos. Ela estava abalada com a intensidade daqueles beijos, fazia tempo que não vivia nada assim. E ele falou:
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo...
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Ela falou depois de pensar um pouco. Seu coração disparara. Sim, o levaria à sua casa. Não devia nada a ninguém, estava resolvida. - A gente podia... Ficou reticente. Pensou um pouco mais, afinal de contas, não conhecia o rapaz. E daí? Segundos transcorreram no interior da jovem mulher, mensurando sua capacidade de decisão. Quando queria uma coisa, lutava por ela e a conquistava. Estava decidida. – Vamos até minha casa. Ela foi avisar suas amigas que estava indo embora e não o viu contar aos amigos com ar de vitória que sairia com ela.
Pegaram um táxi, se agarrando no trajeto, o calor deles estava bom demais. Chegaram. Subiram as escadas ainda aos beijos. Ela abriu a porta. Ele quis jogá-la no sofá, mas ela foi preparar uma bebida. Um whisky, com gelo. Deixou-o na sala, ele foi olhar a estante de livros. Ela achou isso muito positivo, aliás ela estava achando tudo muito positivo. Enquanto preparava o whisky, começou a se policiar: Eu vou dar pra ele, e só. Não preciso achar tudo positivo nele. Ele é uma gracinha, beija bem pra caralho, e só. Eu estou alta de tanto Campari, e só. Não devo beber este whisky, e só. E voltou para a sala.
Entregou o whisky para ele que bebeu um pouco e deixou de lado. Ele a abraçou e falou:
- Me leva pra sua cama.
Ela o levou e quis que o momento fosse doce. As roupas foram tiradas com delicadeza, as proteções foram tomadas com delicadeza também. Ele alisava seu cabelo e descia suas mãos pelo corpo macio daquela jovem mulher, encantado e cuidadoso para que seu desejo não se transformasse em rudeza. Mas, como homem e mulher que eram, no transcorrer dos fatos, o ato de suave se tornou vigoroso e os dois acabaram encharcados de suor. Poderiam ter caído um para cada lado da cama, mas permaneceram abraçados, suados, como se fossem amantes há muito tempo. Sintonia de corpos. Ela voltou a pensar que aquilo era muito positivo, mas percebeu o ressonar dele, ele havia dormido. E resolveu dormir também.
Na manhã seguinte, eles acordaram, ainda abraçados. Quando se perceberam assim, nus, claro que aproveitaram a ocasião e, mais uma vez, o desejo falou alto. Ela pensou que ele não tinha vontade alguma de ir embora. Mas, alguém tinha que fazer algum movimento nesse sentido... Ele não demonstrava nenhuma vontade de levantar da cama. A cabeça dela não parava: Sim, ele é ótimo, mas não pode ficar o sábado inteiro na minha casa... Nem conheço ele. Hahahahah! O que eu faço? Comida! Comida é um bom subterfúgio! Ela pegou na geladeira uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoitos e levou pra cama. Agia com muita naturalidade. Eles comeram juntos e ele se movimentou para ir embora.
Ela ofereceu o banheiro para ele tomar banho, mas ele não quis. Disse que queria ficar com seu cheiro o maior tempo possível, disse isso rindo, ela gostou de ouvir. E, rindo, pediu o telefone dela, anotando no próprio celular. E ela anotou o dele também. Ele foi embora. Ela ficou. Ficou lembrando da intensidade e da positividade daquela noite e daquela manhã. Entrou no chuveiro alegre por ter exercido sua feminilidade em toda sua potência.
Autora: Stella Arbizu - Uma grande pessoa que eu conheci, muito inteligente, amante da escrita, da música, e de cinema... Quando ela me convidou para escrever algo em parceria logo me subiu aquele desejo de realiza-lo de uma vez. Adorei nossa sincronicidade, ainda mais inventando uma história por msn. Foi algo que desejo muito repetir, pois me diverti muito!
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